2048 - O Harém de Melina - Parte 1

Parte 1 - Recrutamento

Já não havia vagas para emprego com a minha especialidade. Ser borracheiro a partir da década de 2030 começou a perder o sentido. Os carros evoluíram ao ponto de pneus serem resitentes, superbaratos e descartáveis. Se por acaso um pneu furasse, nem macaco mais o dono do carro precisava possuir, pois o pneu se retirava facilmente com um dispositivo de extração eletrônico da própria roda, e se repunha do mesmo jeito, da forma inversa. Resultado: a profissão de borracheiro aos poucos foi se extinguindo até que agora, em 2048, são raros os carros que precisam do meu serviço.

Com a crise financeira, a relação com a minha mulher se complicou. As brigas eram constantes. Nas muitas discussões e cobranças, ela me dizia que eu não queria saber de procurar outro emprego, fazer outra coisa. Eu disse para ela que era o que ser borracheiro era o que eu sabia fazer. Eu sei, eu podia estudar e aprender outra profissão, mas eu não tinha ânimo para isso. Eu sei ela tinha razão.

Nossa intimidade ia de mal a pior. Ela não tinha mais vontade de ir para a cama comigo, e eu me acabava sozinho na punheta mesmo, assistindo a vídeos pornô, escondido. Como ela ganhava uma pequena pensão do ex-marido dela (não casamos para que ela continuasse recebendo), confesso que me acomodei. Ela trazia dinheiro do ex, cuidava da casa, e eu seguia fingindo que procurava emprego durante o dia (na verdade ia me encontrar com amigos no bar), chegava em casa de noite só para ficar no sofá vendo TV, e não raramente, me aliviava às escondidas assistindo os mais sórdidos vídeos de anal, grupal etc.

Uma noite em que cheguei, ela estava aos prantos com o meu techphone na mão dela. Eu gelei. O histórico estava todo lá. Ela descobriu que eu me deliciava com os vídeos de pornografia. Foi o estopim para a nossa última briga. Ela pegou as coisas dela e me deixou.

A tristeza pelo abandono e o arrependimento se somaram agora à situação difícil em que me encontrava: estava sem a boquinha da pensão do ex dela. Não restou alternativa. Tinha que achar emprego!

Corri para o site de vagas. Difícil encontrar algo que eu soubesse fazer em meio a tantos anúncios em busca de técnicos em arte digital, eletrônica quântica, decoração holográfica, jardinagem 4D, e outros trabalhos que fugiam totalmente da minha compreensão. Havia vagas de serviços domésticos, mas eu odiava limpar, varrer, essas coisas.

Um mês se passou. A fome apertou e eu já estava parando de receber ajuda de amigos e conhecidos. Não teve jeito, engoli o orgulho e a preguiça. A necessidade falou mais alto. Voltei aos anúncios de empregos, na seção de mão-de-obra não especializada. Catadores de lixo... não. Auxiliar de pedreiro...tenho alergia ao pó de cimento. Serviços domésticos. Parei ali. Um anúncio me causou muita estranheza e chamou minha atenção:

            Aquele anúncio realmente era muito esquisito. Não entendi direito do que se tratava, mas aquilo aguçou minha curiosidade. Eu atendia àqueles requisitos. Eu era baixo, magro e quase não tinha pêlos. Pronto. Estava decidido. Adicionei o webchat dessa tal mistress-meli-sei-lá-o-quê,  e escrevi. Ela respondeu na hora:

            Minha curiosidade só aumentou com essa conversa. E confesso que me deixou excitado essa forma dela escrever: “...venha mesmo, estou esperando.” Veja só, a gente é muito safado mesmo, né? Só penso em sexo o tempo todo. Já estou fantasiando com a minha possível futura chefe, que ta falando comigo toda séria, em tom profissional. Se eu tivesse uma foto dela, bem provável que já estaria sendo homenageada em um 5 contra 1 no banheiro, rsrsrs.... 

                Mas não sei por que, estou com a sensação de que esse emprego vai ser diferente de tudo o que eu já vi na vida.

Parte 2